Cristian Mairesse Cavalheiro, um peregrino em busca do Finisterr
Na vida nos desafiamos constantemente a evoluir como Ser Humano e profissional. Todos criamos sonhos, mas há momentos que precisamos tirar eles do papel e partir para a ação. A seguir, descrevo a trajetória de Ms. Chevalier e Mr. Walker de realizar o Caminho Francês de Santiago de Compostela, 830km a pé durante 30 dias em Set/2019.
Neste diário nos deparamos com os 5 elementos que entendo norteiam qualquer projeto que venhamos a nos dedicar: propósito, planejamento, preparação, resiliência e reflexão.
O propósito engaja, dita o objetivo maior, te faz acreditar que é possível vencer e dá sentido a vida.
O planejamento é essencial, é aqui que selecionamos as atividades, criamos os planos A, B e C. Pensamos em cada detalhe, estudamos, lemos, aprendemos sobre o que vamos enfrentar.
A preparação é o treinamento que te faz forte, que experimenta o que irá vivenciar, que alimenta o sonho e onde vai criando a rotina de disciplina e organização fundamentais para o sucesso.
A resiliência é a capacidade de cair e levantar, ainda mais forte e determinado a vencer. Não faltarão momentos de incertezas, de sofrimentos, de questionamentos, de desapego e de que tudo parece estar perdido.
A reflexão é o aprendizado de que tudo passa, de que sempre extraímos algo de bom dos momentos ruins e bons que passamos e, que com um bom coração, um bom propósito e com as pessoas certas, as chances de sucesso de qualquer sonho podem se tornar reais.
Buen Camino
Link do vídeo da viagem: https://youtu.be/VIT8ht3LMoE
Dia 01
28/08/2019
Depois de um delicioso almoço na casa do Caminha, acompanhado dos filhos e de sua mãe e revisão das mochilas que nos acompanharão por 35 dias, pegamos o Uber para o aeroporto. Tomamos 2 chopes, nos despedimos, publicamos no Face e Instagram e partimos de Poa 19h30 pela TAM direção Guarulhos. Despachamos uma pequena sacola com 8kg de mantimentos, bastões e medicamentos. Pesamos e medimos nossas mochilas, 9kg para a do Mr Walker e 13kg para Missie Chevalier. Fudeu, temos que aliviar o peso, ainda não sabemos como. Quase que não conseguimos embarcar com as mochilas pelo tamanho da minha. Um turbilhão de pensamentos vem à mente na viagem, 700km de treinamentos em 7m, angústias pessoais, meus tratamentos do joelho e de emagrecimento dos 15kg a menos. Chegando a Guarulhos e fomos direto para o terminal 3, gate 332 para em seguida pegarmos o voo para Madrid. Sentamo-nos no melhor não-executive, que é a saída de emergência com um amplo espaço à frente. Uma aeromoça curiosa nos fez várias perguntas a cerca da preparação e motivos, e o Mr Walker estava deveras empolgado com a conversa. Apreciar um jantar padrão, salada com salmão para Mr Walker e lascas de batata com Tatu para Mr Chevalier, um vinho e dormir é o que o Dr receitou. Boa noite, Ultreia
Dia 02
29/08/2019
Tentar dormir e acordar sentado não é das 8 maravilhas do mundo, mas o desconforto faz parte do que vamos enfrentar. Repartimos nosso café, 1/2 omelete e 1/2 sanduíche, fruta e suco. Mr Walker passou o tempo treinando o ingles nos jogos, e também tomando uma surra no Xadrez. Pousamos as 14h30 local, 9h30 Brasil, 28 graus. Em pouco tempo estávamos correndo para pegar o metrô para estação Atocha. Ao tentar pegar a conexão...não entra aqui, mais pra frente... aqui... calma que ele apita... pipi.. perdemos. Mas a sorte do Mr Pipi, opa, Walker veio outro trem em 1min. Na estação de atocha comemos um American burger e duas cevas, num calor de 34g. Madrid é sempre encantadora, uma mistura de cultura milenar com um toque de modernidade tecnológica. Partimos de trem para Pamplona. Após 2h30 chegamos a Pamplona, a vista das planícies espanholas a 200km/h é sim uma das maravilhas do mundo, esperamos caminhar por lugares assim. Pamplona será um dos pontos de parada, daqui há 3dias. Seguimos de táxi por 70km para San Jean Piet de Port, na França, depois dos Pirineus que tanto nos assustaram durante meses. Antes paramos em um posto e compramos um baguete e água. O Taxista veio a 100km/h subindo a serra que chegamos a ficar tontos. Nos hospedamos na Maison Simonenia em SJPP que havíamos reservado no Booking, mas ao chegar não havia ninguém, apenas a porta aberta. Entramos, chamamos por alguém e nada. Deixamos um aviso, escolhemos um quarto e nos acomodamos. Arrumos as mochilas, tomamos banho, jantamos sardinha e atum com o baguete e água. Quando de repente chega a dona do Hostel, uma francesinha jovem, magra e alta. Quase nos correu por não ser ali nossa habitação. Expliquei o acontecido em espanhol, francês, inglês e sei lá mais o que, mas ela estava brava. Paguei e nos acertamos, ficando onde estávamos. Vamos dormir que agora sim começa o desafio, e ao julgar pela vinda, será duríssimo.
Dia 03
30/08/2019
28km
Pirineus-Roncesvalles
PQP, vencemos. 1800mt altitude, 28km total, 22km subindo e 6 descendo, muitas pedras no caminho, igual a vida. Dedico esta etapa ao meu filho Dr Pedro Cavalheiro, meu maior incentivador. Te amo.
Costumamos planejar e treinar para um grande desafio, mas nada supera a realidade. Treinamos muito, morro Ferrabraz 13km, morro Borússia 20km, morro galopolis 30km, praia 46km, 2x por semana 10km as 5h manhã. Os pirineus colocaram isso no chinelo. Começamos o dia saindo da pousada com um café espetacular, carimbamos nosso passaporte com o primeiro em SJPP e saímos meio desengonçados e apreensivos. Nos primeiros 3km já sentimos o que viria pela frente. Conseguimos vencer a etapa de 8km parando num albergue em Orisson, onde recarregamos a água e fizemos um lanche com as sobras do café. Tentamos despachar uma sacola para aliviar o peso, mas já haviam saído e não poderia mais. Ao trazer as coisas de volta para as mochilas começamos o desapego, jogando algumas coisas fora. Retomamos a subida sem fim, igualmente agora com paisagens de tirar o fôlego literalmente. Tivemos que fazer diversas paradas, principalmente pelo sol de 35g que nos castigava, além do peso de carga. Quando chegamos ao km 12 estava exausto, a única sombra que tinha era de um poste pequeno que mal tapava o rosto. Comemos nosso gel e chocolate e mais um pouco de água e hidratante carbo. Ao retomar o caminho encontramos vindo ao contrário um muçulmano a julgar pela barba comprida, que informou q havia uma fonte de água atrás de um morro que não conseguíamos nem ver, no km 20. Meus amigos. Foi absurdamente extenuante chegar lá, últimos 2km ainda havia uma subida mais íngreme ainda, quando achávamos que estávamos perdidos, encontramos a fonte, a água é a melhor coisa do mundo, tomamos quase banho ali e recarregamos os 3lts que carregamos sempre. Estávamos acompanhados do Americano Dan do Oregan, engenheiro de trem que me fez lembrar muito do Pablito, meu sobrinho. Caminhamos durante varios momentos com Chineses, sul africanas, canadenses, holandeses, alemães, italianos e até do Havaí. A última parte, que informaram era uma descida, tinha subidas também, acho que a Espanha só tem subidas como diz nosso amigo Mário Scherer. Meu joelho, operado 6x, aguentou com alma de cavalaria, trabalho especial de células tronco do grande Dr Felipe Carvalho. Chegamos ao hostel as 9h da noite extenuados, nos colocaram numa cama beliche no sub solo pois estava lotado. Comemos um novo sanduíche com Coca Cola, é o que tinha na máquina, nada de restaurantes. Uma turma muito bacana nos acolheu com simpatia cuidando-nos para nos acomodarmos, tomei banho e escovei os dentes, dormimos 7h. Dores sumiram, o caminho é mágico. Acordamos as 6h, arrumamos tudo e após um café com massa e ceva sem álcool que errei ao comprar na máquina, partimos, não podemos parar. Agradeço aos reumato Dr Alexandre Islabao, ortomolecular Dr Fernando Flacker, , Personal Carla Dal Pont, Cardiologista Dr Enio Casagrande e Nutricionista Juliana Casagrande e todos demais amigos que caminharam e torceram por nós.
Para acessar os seguintes 32 dias do diário, clique no link a seguir: https://drive.google.com/file/d/11OP66usnbdywVaJuwcyj7TuHagWQ4RSe/view?usp=sharing
